Dizem que tudo tem um fim, mas o fim disto eu achei que não fosse chegar tão cedo, pelo menos até entrar na faculdade. Este ano letivo passado já foi marcado por uma grande desmotivação, mas lá se fez, e para o ano não sei se volto a pôr lá os pés. A verdade é que ter estado tanto tempo afastada fez com que muitas coisas ficassem por registar aqui. Esta é uma delas. Apesar do amor à dança, na realidade aquela sala já não é o espaço para me despir dos problemas, das incertezas, dos meus medos, para estar ali e ser um instrumento. Sinto-o sim, como um espaço que ainda traz mais stress à minha vida, um espaço onde me obrigam a definir o ballet como prioridade e um ambiente rodeado de pessoas falsas. O mundo do espetáculo é um pouco disso também, há de tudo, como em todo o lado. Pessoas que fazem de tudo para chegar onde querem, incluindo espezinhar os outros, pessoas que se acham as maiores do mundo, e quando isso chega à professora e essas pessoas conseguem inclusivé levá-la atrás das suas ideias, é coisa para me deixar possessa. Eu posso bem com elas, mas chega a um momento em que farta, cansa.
Se é difícil deixar para trás um coisa que respiramos desde os 3 anos de idade? É e questiono-me sempre se não me vou arrepender de não aproveitar este que seria o último ano, provavelmente. Mas por muito que adore dançar, já cheguei a um nível de saturação. Já não aguento mais estar ali, com aquelas pessoas, naquele ambiente. Ter aulas todo o ano em que a atenção recai sempre para a mesma aluna e as outras que se arranjem, chateia. Mas depois ver os resultados dos exames e ver que desde que entrei para ali, consegui sempre ser a melhor nota, mesmo quando não puxam por mim é reconfortante. Isso, os comentários depois dos espetáculos, depois das aulas abertas, que levo com muito carinho para a vida.
Ando ali por andar quase. E é pena sair chateada com tanta coisa. Prefiro ficar com as boas memórias. As semanas de ensaios intensivas, o nervoso, as borboletas na barriga antes de pisar o palco, que por mais anos de experiência, nunca se perdem. Os pés sangrentos e cheios de bolhas, que já só aguentavam as pontas com ligaduras e proteções de silicone (e sim, isto é uma boa memória!). E a amizade que levo de uma pessoa que esteve lá comigo, desde sempre e que me motiva a permanecer lá com ela. Não imaginam o esforço que se faz, para mesmo tendo um horário do pior que se pode ter, ainda conseguir treinar até às 22h da noite, mesmo que nesse dia tenha saído de casa às 08h da manhã.
O ballet é especial, é exigente, é desafiante, é belo, é deslumbrante. E a dança vai estar em mim para sempre. É caso para dizer: After all this time? Always. Em Setembro é o mês dos recomeços e é aí que vou decidir se vou ou não para o ballet. Por mais que deixe, a dança ficará sempre em mim e nunca vou parar. Uma vez bailarina, sempre bailarina.
» (...) Já fiz as contas e tenho a certeza de que já passei mais horas da minha vida a dançar do que a dormir. Sonho mais quando danço do que quando durmo. Quando danço, tudo parece um sonho mas, como tenho dores, sei que é real. (...) »
A verdade é que a pouca diferença de idades, visto que a nossa prof. de ballet tem 30 e poucos anos faz com que se crie uma amizade, algo que vai além da relação de professora-aluna. E isso é muito bom! Quando as coisas não estão bem, nós falamos abertamente sobre isso e a própria prof. desabafa connosco. Nós fomos inclusive ao seu casamento, há dois anos quase. Contudo, os desabafos nunca tinham passado da situação de aula. Mas durante este espetáculo, tal como fortaleci relações com alguns dos meus colegas, fortaleci também com a minha prof., apesar de ser muito contrariada e de por sua vez, nos termos chateado por sermos as duas demasiado frontais. Mas na segunda-feira a seguir ao espetáculo ela vai desabafar comigo e gostei disso. Gostei que tivesse confiança em mim para o fazer...só comigo. Tornei-me a psicóloga dela ahah É bom ter amizades assim!
Como ter duas bolhas em carne viva no mesmo dedo, cair-me uma unha em outro e rachar outra unha na vertical e ainda ter de enfiar os pés dentro das pontas não era suficiente, toma lá um escaldãozinho que é para agora não teres comichão, nem dores nenhumas, nem sensação de ter a pele a escaldar enquanto vestes o teu lindo fato de Sven!
É verdade, na semana antes do espetáculo tudo me aconteceu. Para além de tudo o que aconteceu aos meus pés por causa das pontas novas, ainda tive um escaldão nas costas e na cara. Era uma rena versão lagosta. O que vale é que até lá me enchi de creme várias vezes ao dia para ver se isto acalmava e se a pele não me caía.
Em relação ao Frozen, tanta confusão que houve por causa de fatos e de tudo isso, mas no final valeu a pena! Fortaleci amizades, principalmente com o L., o rapaz com quem fiz um pas de deux. Pena que ele para o ano vai para o Conservatório Nacional e vai-nos abandonar, mas não podia estar mais feliz por ter conseguido o seu objetivo! Só lhe pedi milhares de vezes "só te peço que não me deixes cair, só isso" e lá me segurou no ombro! Quando dei o impulso para saltar o meu coração palpitava e não estão a ver o meu alívio quando senti o ombro dele. Obrigada por tudo!
Quanto ao meu solo, correu bem, apesar de no ensaio ter corrido melhor, porque na diagonal de piruettes seguidas, com a pressão, comecei a não subir bem à ponta, mas pronto. Recebi elogios que me deixaram bastante corada e orgulhosa, visto que sempre tinha tido uma personagem com mais relevo e agora não fiz tanta coisa. Mas os comentários animaram-me, dizendo que "Realmente és a melhor que dança ali, e provaste-o no teu solo."; "És a minha bailarina preferida."; "A tua irmã passou-te o testemunho"; "Muitos parabéns, sem querer menosprezar as outras, para mim és a que melhor dança, nem se ouve bater com as pontas no chão, parece que voas!". A sério que estes comentários me souberam pela vida! E vá, deu-me um gostinho porque a que fez de personagem principal se acha a maior e sempre que fala disso no twitter ou no instagram faz questão de sublinhar "Adorei dar vida à Elsa, personagem principal do Frozen". Enfim, fiz o meu papel e mesmo assim consegui fazê-lo bem e destacar-me, o que me deixou com o ego em cima, confesso! ahah Não me achem uma convencidona do pior, só quero guardar aqui, com carinho, as palavras que me disseram porque mostra que reconheceram o meu trabalho e isso é reconfortante. As palavras, as palmas..Não vou esquecer! Mesmo sendo uma personagem pouco significante. Agora resta saber a nota do exame e até Setembro, ballet!
Sempre me decidi a fazer o espetáculo e não estou arrependida! Se não fosse o ballet estaria os dias todos fechada em casa e bastante entediada. O meu fato já está a ser feito e também já tenho o pas de deux e o solo coreografado. O meu solo é exigente, ainda por cima porque foi feito, em parte, por um antigo aluno da minha professora que está neste momento no Conservatório em Sevilha que não teve dó nem piedade de mim. Mas prefiro assim a ter uma coreografia com passos idênticos às outras e com algo que não me desafie. O meu único impedimento agora é mesmo as pontas. Vou fazer o espetáculo todo em pontas e tenho 1 semana (1 semana!!) para as trabalhar e moldar as sapatilhas novas ao meu pé, visto que as antigas eram dois números abaixo do meu pé atualmente e era um sofrimento para calçá-las. E agora com as novas pontas estou cheia de bolhas nos pés (que me fazem uma dor insuportável a dançar), já manchei inclusive as novas pontas com sangue e os collants. Como não costumo fazer nada nos pés, estava descansada...Mas a verdade é que quando são sapatilhas novas custa muito.
O meu maior problema é que preciso imenso, preciso desesperadamente de treinar o solo e não vou conseguir curar as bolhas até ao espetáculo ao ter de calçar pontas todos os dias. Façam figas por mim!
Estão a olhar para mim! Sim, porque vou ser o Sven. Ou melhor, não sei se vou fazer o espetáculo. A minha personagem é a Anna, a minha professora vira-se para mim "Tens mesmo cara de Anna, tu serias a Anna, mas não pode ser." E não pode ser porquê?, perguntam vocês. Porque há dois anos atrás fui personagem principal no bailado da Alice. Se soubesse o que sei hoje, nunca teria aceite esse papel. Primeiro porque não gosto da história da Alice no País das Maravilhas e segundo porque basicamente o que eu fiz foi andar a correr atrás de pequenas. Sim, entrei em praticamente todo o espetáculo, mas nunca foi para mostrar o que realmente danço e as minhas capacidades. Ao contrário de colegas minhas que tiveram solos em que puderam mostrar isso (tendo personagens menos importantes) e que agora são as personagens principais do Frozen e terão direito a Pas de deux e a solos como eu não tive quando fui personagem principal. E claro que compreendo que não possa voltar a ser personagem principal, mas a prof. está a ligar ao nome e não propriamente ao trabalho que eu desenvolvi a fazê-lo, que foi, como já referi correr atrás das pequenas.
O Frozen é um filme que eu adoro e sinto-me muito frustada por só por ter feito de Alice ser penalizada agora. Ainda por cima acho que trabalhei para isso e há 3 anos consecutivos que sou a melhor nota em exame.
E depois não consigo suportar a falta de humildade de algumas pessoas e que quando foi a minha irmã a personagem principal, fez-lhe a vida negra, quando fui eu, a inveja era notável e agora que o é, não se pode aturar. E é simplesmente porque ela e a mãe dela compram a prof. com mentiras e nas costas só dizem mal. E só a prof. é que não vê a realidade, porque nós bailarinas é que sofremos com aquilo. Se ela quer ficar à frente fica, ela consegue tudo o que quer...Mesmo em outros bailados, se queria ficar no centro ficava, se queria ficar à frente, ficava. Sempre assim!
Para além disto e tendo em conta os custos do exame, a minha mãe não está disposta a investir dinheiro no espetáculo e por isso, também não sei até que ponto vale a pena investir em algo pela qual eu nem me vou divertir a fazer, porque ontem tive os primeiros ensaios e foi horrível. Mas não quero desistir, porque sei que vão dizer que apenas estou a desistir por não ser personagem principal, mas não é. É mesmo porque a minha mãe não pode financiar isto após um ano de imensos gastos para o exame. É que é preciso pagar a pianista, a deslocação da examinadora, sapatilhas, maillot, um lenço que utilizamos que é apenas um pedaço de tecido mas custa balúrdios, collants, saia character, sapatos, saia de chiffon...É um investimento muito grande. E agora ter de investir num fato que nem sei se me fará feliz, não sei até que ponto vale a pena.
Nunca fui às marchas populares a Lisboa, apesar de achar que deve ser um ambiente incrível. Contudo, para poder participar nas marchas na minha região, não me permite que vá a Lisboa...Este é o meu 3º ano consecutivo nas marchas e é sempre algo em que gosto de participar porque conheço novas pessoas e tanto nos ensaios como nas saídas em véspera de Santos me divirto bastante. Este ano não vai ser excepção e ainda por cima os fatos e os acessórios utilizados serão a rigor devido à comemoração do 150º aniversário da sociedade. Estou bastante entusiasmada! Mais alguém gosta de se envolver nas comemorações que ocorrem ao longo do mês de Junho? Visto que a minha irmã agora está a viver em Lisboa talvez vá passar lá uns dias para poder ir às festas que se fazem nos bairros. Deve ser muito bom!
Esqueci-me também de dizer, no Domingo passado tive exame de ballet. A examinadora era inglesa e era nova relativamente às restantes que vieram em outros anos. À primeira vista pareceu simpática, mas a nível de notas não sei se será assim tão fácil. Contudo, o exame correu bem e saí de lá satisfeita! Acho que foi o ano em que estive mais calma, e nem sei porquê, visto que fizémos o grau 6 num só ano (entenda-se 8 meses) e semanas antes do exame ainda tinhamos matéria por dar, o que me deveria pôr mais nervosa..mas não! Agora é só esperar pela nota lá para meados de Julho.
Estas semanas têm sido uma correria e não páro um segundo. À semelhança do fim-de-semana passado, também hoje vou ter um espetáculo, mas desta vez não está relacionado com o conservatório, mas sim com o ballet. Fomos convidadas para ir dançar ao Casino do Estoril, para cerca de 400 pessoas. Para nós vai ser uma experiência nova, enriquecedora e vamos estar sobre muita pressão. Mas vai ser tão bom! Wish me luck xx
O ballet devia ser um hobbie..Algo em que pudesse espairecer, descontrair e divertir-me! Não é que não o seja, mas o ballet exige muito de mim. É muito mais do que aquilo que as pessoas normalmente pensam. Envolve sentimentos, esforço, trabalho, dedicação, entrega, paixão. O ballet não é definitivamente o melhor sítio para passar o tempo e quando vi esta imagem sorri. Adequa-se tanto, mas tanto às minhas aulas. É sempre: "glúteos", "barriga para dentro", "braço para a frente", "encolhe o rabo", "estica-te", "sorriam". Mas não trocava por nada..a pressão que se sente antes dos exames, o nervoso miudinho antes dos espetáculos e mais importante de tudo..a amizade! Tantos são os momentos que tiro da minha memória passado nestes últimos 12 anos em que pratico ballet. Isto já faz parte de mim, é um pedaço de mim..Completa-me. E é tão bom!